Alenquer (PA) — No interior do município de Alenquer, oeste do Pará, uma situação inusitada chama atenção: o cemitério conhecido como “João Pisica”, localizado na comunidade do Curumu, está instalado em uma área sujeita a inundações durante o período das cheias.

O caso é citado entre os próprios moradores da comunidade como o lugar onde “se pode morrer duas vezes”: uma pela morte natural e outra, simbolicamente, pelo afogamento das sepulturas.

Apenas três cemitérios registrados oficialmente em Alenquer

Atualmente, Alenquer possui três cemitérios oficialmente registrados: Cemitério de Santa Maria, localizado no bairro da Luanda; Cemitério da Piedade, no centro da cidade e o Cemitério do Km 15, na zona rural.

De acordo com o secretário municipal de Meio Ambiente, Glauber Sampaio, tanto o Cemitério de Santa Maria quanto o Cemitério da Piedade já estão com capacidade praticamente esgotada.

“Em breve, novas áreas deverão ser destinadas a cemitérios municipais, já que alguns espaços da sede estão lotados”, informou o secretário ao Portal Alenquer.

Proximidade com o rio e possível risco ambiental

Uma consulta feita pelo Portal Alenquer ao Google Maps mostra a proximidade da área do cemitério com o leito do rio. Durante a estiagem, o local parece seco e acessível, mas no período chuvoso e durante as cheia dos rios parte do terreno fica submerso.

Essa condição levanta preocupação quanto à contaminação do solo e da água. O processo natural de decomposição dos corpos gera líquidos conhecidos como chorume cadavérico, que, se misturados à água do rio, podem representar risco ambiental e sanitário.

Especialistas alertam que esse tipo de situação pode representar risco ambiental e sanitário, exigindo atenção do poder público e das comunidades que mantêm esses espaços de forma informal.

Secretaria orienta que nova área seja buscada pela comunidade

Questionado sobre o caso específico do Cemitério João Pisica, o secretário Glauber Sampaio explicou que, embora o registro ambiental de cemitérios não seja obrigatório, a localização precisa ser cuidadosamente avaliada.

“A comunidade deve procurar outra área para legalização. Mesmo sem obrigatoriedade de registro ambiental, é fundamental observar critérios técnicos: distância de corpos hídricos e sistemas de abastecimento, e a altura do lençol freático durante o inverno”, destacou.

A orientação visa evitar contaminação do solo e da água, especialmente em áreas que sofrem com inundações sazonais.

Fiscalização e regularização são necessárias

Até o momento, não há registro de solicitação formal de providências por parte de moradores da comunidade. A situação, no entanto, evidencia a necessidade de fiscalização por parte dos órgãos ambientais e sanitários municipais.

A ausência de regularização e de estrutura adequada pode configurar irregularidades ambientais, especialmente considerando a vulnerabilidade do terreno às enchentes.

Realidade comum em comunidades do interior

O caso do Cemitério João Pisica, no Curumu, reflete uma realidade comum em várias localidades do interior, cemitérios comunitários criados por necessidade, muitas vezes sem acompanhamento técnico ou autorização formal.

A regularização e o mapeamento desses espaços são medidas essenciais para garantir segurança ambiental, respeito aos falecidos e tranquilidade às famílias locais.