A COP30, em Belém, foi tudo, menos tranquila. Em meio a protestos ruidosos, faixas em chamas, disputas acaloradas e madrugadas de negociação, o mundo acompanhou uma conferência em ebulição. O Brasil tentou liderar um acordo histórico para abandonar gradualmente os combustíveis fósseis, mas a proposta esbarrou em um muro geopolítico.

Sem consenso, ficou de fora do documento final. Arábia Saudita, Rússia e Índia, gigantes na produção de petróleo, gás e carvão, bloquearam qualquer avanço mais ousado, deixando evidente que as pressões econômicas por trás desses recursos são mais importantes.

A frustração é compreensível, a queima de combustíveis fósseis segue como a maior responsável pelo aumento dos gases de efeito estufa e pelo perigoso aquecimento do planeta. Ainda assim, um fio de esperança emergiu: o Brasil recebeu a missão de liderar a construção de um mapa global para a transição energética, um roteiro que pode transformar a maneira como o mundo produz e consome energia nas próximas décadas.

E, mesmo em meio ao tumulto, o multilateralismo, tantas vezes desacreditado, deu sinais de força. Cada país deixou Belém carregando novas metas e responsabilidades, como quem compreende que já não há espaço para correr sozinho em uma corrida contra o tempo. Foi nesse clima que nasceu o documento final da conferência: o “Mutirão Global”. O texto reafirma que a crise climática é uma preocupação de toda a humanidade, e que suas soluções precisam respeitar direitos humanos, povos indígenas, comunidades tradicionais e populações vulneráveis.

A Amazônia, assim como outros grandes biomas do planeta, aparece como protagonista no documento, reconhecida não apenas como floresta, mas como um imenso sumidouro de carbono, um verdadeiro pulmão capaz de capturar CO₂ e oferecer ao mundo uma última chance de equilíbrio climático.

Por isso, o compromisso é direto e inadiável: parar e reverter o desmatamento até 2030. Ao celebrar os dez anos do Acordo de Paris, o Mutirão Global destaca avanços importantes, como a queda no custo das energias renováveis, mas não esconde a gravidade do cenário. O alerta é duro: o planeta ainda está distante da meta de limitar o aquecimento a 1,5 °C. Para evitar o colapso, será preciso cortar emissões em 43% até 2030, 60% até 2035 e alcançar neutralidade de carbono até 2050. Uma missão que exige coragem, cooperação e, sobretudo, velocidade.

A COP30 também marcou o início de uma nova fase. Ficaram para trás as promessas eternas e as discussões repetidas. Agora começa a era da implementação real, com países obrigados a apresentar planos de adaptação, sistemas transparentes de monitoramento e ações conjuntas entre governos, empresas e sociedade civil.

Esse novo movimento global ganha força com iniciativas como o Mutirão Global contra a Mudança Climática, o Acelerador Global de Implementação e a ousada Missão Belém 1.5, criadas para transformar discurso em prática. No coração da conferência também pulsou a questão financeira. O documento final estabelece a necessidade de mobilizar US$ 1,3 trilhão por ano até 2035, com pelo menos US$ 300 bilhões anuais destinados à adaptação. A conta é alta, mas menor que o preço da inação. 

Países desenvolvidos são chamados a liderar esse esforço e a apoiar reformas urgentes na arquitetura financeira internacional, garantindo que recursos cheguem, de forma justa e rápida, a quem mais sofre com enchentes, secas, tempestades e outros extremos climáticos. Pela primeira vez, o texto também reconhece claramente a importância de ampliar fundos para reparar perdas e danos já inevitáveis em muitas regiões vulneráveis.


Ao fim de dias intensos, Belém não apenas sediou uma conferência, marcou uma virada histórica. A mensagem da COP30 ecoa com força: o tempo das promessas acabou. O mundo não pode mais esperar. É hora de agir com urgência, solidariedade e transparência. A partir daqui, cada decisão tomada, ou adiada, dirá se ainda temos chance de manter vivo o limite de 1,5 °C. Mais do que um evento, a COP30 se tornou um chamado. Um convite para escolher, de uma vez por todas, se queremos construir o futuro… ou assistir ao planeta ser consumido pelo que já não conseguimos evitar.