REPRODUÇÃO: Blog do Jeso
Alenquer (PA) encerrou 2023 com um número preocupante de suicídios, conforme informações fornecidas por especialistas que atuam na área de saúde mental. Foram registradas 6 mortes no ano passado, número considerado alto para um município com pouco mais de 69 mil habitantes (IBGE 2022).
Desse total de suicídios notificados pela Vigilância em Saúde, setor da Semsa (Secretaria Municipal de Saúde) de Alenquer, 5 aconteceram na zona urbana e pelo menos 1 na zona rural. Entre as 6 vítimas, 5 eram homens – a maioria eram jovens com idade entre 20 e 40 anos.
De acordo com Liliane Leitão, coordenadora do Centro de Atenção Psicossocial (Caps), pelo menos duas das 6 vítimas buscaram atendimento no órgão público, responsável por receber e cuidar das pessoas que passam por problemas psicológicos na cidade.
Liliane disse ainda que nos últimos anos o Caps tem feito ações de combate e prevenção ao suicídio na cidade, como rodas de conversa e palestras nas escolas, empresas e unidades de saúde das zonas urbana e rural, caminhadas alusivas à prevenção do suicídio, divulgação dos serviços realizados pelos profissionais e da rede de atenção psicossocial através dos meios de comunicação e redes sociais.
Motivação
Para o psicólogo clínico Adson Batista, que atua no Caps, o que tem motivado ao alto número de suicídios em Alenquer são vivências não resolvidas do passado e presente, medo de possíveis doenças incuráveis, abusos não revelados, a não aceitação familiar e social de uma possível condição homoafetiva, entre outros.
Além disso, o julgamento da sociedade às pessoas que precisam de ajuda psicológica, o envolvimento com drogas ilícitas, as baixas condições financeiras e a não aceitação dessas condições têm sido as prováveis motivações na atual realidade de Alenquer.
O psicólogo disse ainda que a depressão moderada é responsável pelas maiores taxas de suicídio. No entanto, existem muitos julgamentos de familiares e amigos quando afirmam que depressão é “frescura”, “espírito fraco” ou “falta de Deus”, quando na verdade deveria haver acolhida, ombro amigo e empatia com a pessoa que está passando por sérios problemas de saúde mental.
Onde encontrar ajuda
Adson Batista destacou que o envolvimento da família é fundamental na identificação dos casos. Reconhecendo os sintomas, o familiar ou amigo deve procurar ajuda com os agentes comunitários de saúde que vão aos domicílios, numa unidade básica de saúde ou nos serviços do Centro de Referência de Assistência Social (Cras) e do Caps, onde contam com uma equipe de multiprofissionais constituída por médicos, psicólogos, assistente social, enfermeiros e farmacêuticos.
O psicólogo frisa que tão preocupante quanto o número elevado de suicídios é a quantidade de pessoas que precisam de ajuda psicológica. Mais de 2.300 pessoas foram atendidas no Caps em 2023. Apesar disso, enfatiza Adson, ainda há muito mais pessoas que não procuram atendimento por vergonha e devido ao preconceito da população, que ao invés de ajudar, apenas julgam.
Os problemas de depressão não são levados a sério no próprio lar.
“As famílias hoje estão ocupadas em seus afazeres e em suas responsabilidades, o que os fazem deixar de ouvir um ao outro e de se importar um com o outro. Com isso, ocorre o distanciamento afetivo entre pais e filhos, irmãos e irmãs, fazendo com que o contato afetivo se encerre”, ressaltou o psicólogo.
Ações de prevenção intensificadas
A coordenação do Centro de Atenção Psicossocial de Alenquer informou que, com a alta de casos em 2023, as ações de prevenção ao suicídio serão intensificadas, com o apoio da Rede de Atenção Psicossocial durante o ano de 2024, com o objetivo de alcançar o maior número de pessoas, seja na zona urbana como na zona rural.
É fundamental dar atenção à família e levar a sério tudo o que ocorre entre cada familiar. Para quem está procurando ajuda psicológica, a pessoa pode entrar em contato com o Centro de Valorização da Vida (CVV), pelo número 188, ou com o Caps de Alenquer pelo número (93) 91226-825.
REPRODUÇÃO: Blog do Jeso